quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Os dois lados da EJA

Como já estava previsto, falarei agora sobre as duas realidades da EJA com as quais me deparei durante o X Fórum de Lingüística da UERJ.
No meu primeiro contato, que foi durante a apresentação dos grupos temáticos, as pessoas tinham quadros parecidos. Eram alunos resgatando os estudos que perderam durante sua infância e juventude. De uma maneira geral, os textos eram trabalhados com entusiasmo e muito bem recepcionados pelos alunos. Durante o trabalho desses professores, os alunos passaram a ler com freqüência, a interpretar com facilidade e a produzir seus próprios textos. O que de certa forma causa grande estimulo aos professores. Os alunos desses professores eram em geral nordestinos que vieram ao RJ em busca de melhores condições de vida. Eram grupos formados por domésticas, pedreiros, porteiros, garçons, serventes e imigrantes de países em guerra civil.
Já na palestra o quadro não foi tão diferente. E na “mesa redonda” formada pelo Profº Aitel, Profº Enildo e Profª Maria Teresa, os relatos eram interessantíssimos, mas em todos os casos os alunos estavam entusiasmados e prontos para aprender.
Ao término da palestra, surgiu um novo quadro, algumas professoras ali presentes, relataram que seus alunos não eram entusiasmados, não tinham muito interesse na aula, faltavam constantemente às aulas e que eram turmas basicamente formadas por traficantes, assaltantes e viciados em drogas. Uma professora disse que os apelidos são comuns e que sempre fazem referencia a drogas e crime. Outra professora disse com grande tristeza “Não agüento mais ter que ir a enterro de aluno toda semana.”
Depois tive a oportunidade de conversar com outras professoras que relataram que durante a chamada é comum ouvir “faltou porque está preso” ou “não veio, ta fugindo”.
O que eu pude observar desses dois quadros é quando a EJA separa o JOVEM do ADULTO. O que quero dizer com isso?
Bem, o ADULTO é aquele que por alguma razão não pôde estudar, mas nunca perdeu as esperanças de retomar seus estudos. Quando lhe surge a oportunidade, ele se empenha, se entusiasma e se esforça para dar o seu melhor. Daí surgem belos trabalhos e professores felizes. Já o JOVEM foi aluno da rede pública, que depois de atingirem uma idade muito avançada para estar em determinadas turmas, são transferidos para a EJA. De certa forma esses alunos não estavam interessados em estudar antes, muitos por já terem se viciado muito cedo, outros por falta de estimulo ou convivência familiar inadequada e alguns por terem se associado ao tráfico de drogas muito jovens. Esses alunos por um motivo que eu ainda desconheço, permanecem na escola, querem concluir o ensino fundamental e médio, mas não estão tão interessados assim em estudar.

Para finalizar, ficam as dúvidas: Por que esses alunos permanecem estudando? Será que existe outro quadro da EJA além desses dois que eu conheci?

Um comentário:

  1. Oi Isis! passando para conhecer seu "espaço virtual". Nos vemos na faculdade.
    P.S.: seu blog é muito interessante e informativo; Parabéns!

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