terça-feira, 10 de novembro de 2009

Oralidade

Hoje vou falar um pouco sobre metodologia. E o que eu pude perceber até o momento é que na EJA a metodologia quem cria é o professor, de acordo com o que ele percebe da turma. Dessa forma, cada professor busca em sua aula, aquilo que mais interessa aos alunos, até porque, são alunos cansados de um longo dia de trabalho duro, e para que não haja um grande número de faltas, os professores precisam tornar as aulas mais prazerosas.

O Prof.º José Enildo Elias, publicou um livro chamado “A questão da oralidade na Educação de Jovens e Adultos”.




Nesse livro ele compartilha suas experiências como professor da EJA. Eu não li o livro ainda, mas tive a sorte de participar de sua palestra e encontrei um artigo “DA ORALIDADE À ESCRITA EM EX-ALUNOS DA EJA”, que resume uma pesquisa feita com ex-alunos, que você pode encontrar nesse link:

http://www.filologia.org.br/iisinefil/textos_completos/da_oralidade_a_escrita_em_ex-alunos_%20JOSE_ENILDO.pdf

Em sua palestra o Profº Enildo relatou que suas aulas com alunos do sertão de Pernambuco eram feitas através de vivencias dos próprios alunos. Num determinado momento da aula, ele perguntava a algum aluno se havia ocorrido algum evento interessante na comunidade. Como esses acontecimentos eram de conhecimento dos alunos, todos os alunos acabavam participando da aula, dando sua versão dos fatos e acrescentando informações que outros não sabiam. Ao final dos relatos, o professor pedia que os alunos escrevessem aquele acontecimento, sem limite de linhas, sem preocupação com pontuação ou ortografia. O professor recolhia as redações, prometendo corrigi-las e devolve-las. Porém, no decorrer de 5 aulas, ele devolvia as redações sem corrigir, alegando que as leu, porém achava que eles poderiam melhorar.
Dessa forma, os alunos se esforçavam para escrever melhor e tornar os textos mais claros. Ao término do quinto dia, o professor utilizava a redação dos alunos para trabalhar concordância verbal, pontuação e pedia sugestões dos colegas para melhorar a arrumação do texto.
Essa foi a maneira que o Prof.º Enildo encontrou para trabalhar a oralidade dos alunos, tanto na fala quanto na escrita, pois são alunos sem acesso a TVs, computadores, livros, ou seja, seria complicado trabalhar textos prontos de assuntos completamente desconhecidos por eles. Por isso essa técnica proporcionou bons resultados e trouxe auto-estima a esses alunos.
Segundo o professor Enildo, a maioria desses alunos acreditam que só terião a chance de “ser alguém” se migrarem para as grandes capitais, pois não consideram seus trabalhos dignos de grandes reconhecimentos, dessa forma, o professor buscou mostrar que seus trabalhos eram vendidos na capital por preços altos e que ele poderiam se orgulhar de ser o que eram.
O grande desafio era transformá-los em leitores e falantes, para que eles pudessem, através de argumentos e boa linguagem serem compreendidos sem se sentirem diminuídos por pessoas que se utilizam de “boa fala” e “boa vestimenta” para silenciá-los.

2 comentários:

  1. Muito legal esse ponto, pois acredito que esse é o espírito, e admiro mesmo os como você colocou cansados alunos que buscam o melhor para suas vidas.

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  2. Querida Isis

    quero agradecer por seus elogios ao meu trabalho, mas acredito que trabalhar com a EJA trata-se de uma dedicação ao ensino diferenciado, não porque sejam pessoas que não possam construir competências, e sim, porque esses sujeitos oriundos da EJA criam suas próprias formas de aprender através de experiências vividas ao longo da vida.

    Quero manter contato com você e com as pessoas interessadas em aprender mais sobre o ensino EJA.
    Estou escrevendo outro trabalho sobre a leitura de uma obra literária "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Melo Neto, em realidade é uma experiência de Leitura e produção de uma peça teatral intitulada "Morte e Vida Proeja".

    Tenho até DVD deste trabalho, quem quiser posso enviar, inclusive você.

    Abraços,

    Enildo Elias

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