quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Mestre é quem de repente aprende

Agora vou citar o Prof.º Aitel, que atua na EJA do RJ, num quadro mais privilegiado, onde os alunos são em sua maioria adultos que buscam nos estudos resgatar um conhecimento acadêmico. Porém, esses alunos possuem uma carga de conhecimento de vida, que muitas vezes coloca o professor em posição de aprendiz.
O Prof.º Aitel relatou quatro situações, que ele vivenciou, quando ainda era estagiário do curso de Letras da UFRJ e é o que vou contar agora.
Durante a aula, a professora estava trabalhando um texto que falava sobre uma “Casa de Farinha”. Ao término do texto a professora confessou que nunca havia visto uma “Casa de Farinha” antes, um aluno começou a explicar, em seguida um outro acrescentou alguns detalhes e num dado momento, a professora estava sentada numa carteira, enquanto quatro alunos desenhavam no quadro e explicavam como era uma “Casa de farinha”. Nesse momento o Prof.º Aitel, ainda na condição de estagiário, percebeu o momento em que o professor se torna aprendiz.
No segundo relato, o professor estava trabalhando um texto metafórico de “Agulha e linha”. Uma aluna, que era empregada doméstica, concluiu que a agulha era ela que dava duro, enquanto que a linha era sua patroa que só ficava parada esperando ela fazer tudo. Os demais alunos, diante da interpretação da colega concordaram plenamente com o texto. A aluna então contou que certa vez, sua patroa disse: “Maria, tem uma carne estragada na geladeira. Prepara alguma coisa pra você comer.” A turma ficou indignada e de uma certa forma cobrou uma reação da colega. Pois Maria, num ar de vitória, confessou que fez um picadinho e serviu para a patroa comer. Então Prof.º Aitel percebeu que há uma união entre os alunos, por eles entenderem e terem passado por situações semelhantes.
No terceiro caso, o texto trabalhado falava sobre solidariedade. Ao fim do texto um aluno disse num tom áspero “Eu não preciso e nunca precisei da ajuda de ninguém pra nada”. Os alunos se revoltaram com tal comentário. O Prof.º Aitel comentou que muitos argumentos foram usados para mudar a opinião desse aluno, como: “você nunca ficou doente e um médico lhe ajudou?”, “você precisa da ajuda do professor para aprender”, “você nunca carregou nada pesado que alguém te ajudasse a carregar?”, entre outras. Depois de muito alvoroço, o aluno não mudou sua opinião, contou sua versão dos fatos, que incluía o abandono dos pais, de quando morou na rua, sua independência financeira desde muito jovem, enfim, ele cresceu ao ponto de ter uma profissão e naquele momento iniciar seus estudos. Muito embora a turma ainda não concordasse com sua frase, todos compreenderam sua postura e não tiraram sua razão em pensar assim.
E finalizando, durante seu estágio, um aluno pergunta ao Aitel o que ele estava fazendo ali. Aitel respondeu que estava fazendo um trabalho para a faculdade. O Aluno pergunta quantos anos tinha o Aitel, que na época estava com 21 anos, coincidindo assim com a idade do aluno. O aluno muito esperançoso perguntou ao estagiário: “Você acha que eu tenho condições de fazer faculdade também?”. E naquele momento Ailte percebeu que o aluno acabara de construir um sonho.
O que eu pude concluir com esses relatos, foi que a EJA é uma verdadeira escola, tanto para quem é aluno, quanto para quem é professor, o professor mestre na vida acadêmica e o aluno mestre na escola da vida.
E a palestra do Prof.º Aitel terminou com a frase do Guimarães Rosa que resume tudo...

“Mestre é quem de repente aprende”

2 comentários:

  1. Muito bom mesmo Isis, gostei mais ainda da agulha e linha não conhecia.

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  2. Oi, Isis! Sou o Aytel. Fiquei muito feliz em ver que você compreendeu as minhas palavras! Espero que te ajudem em seu trabalho! Qualquer coisa, pode entrar em contato aytelfonseca@yahoo.com.br.

    Até mais!

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